Energy and Utility

Energia como inovação

O assunto “energia” é muitas vezes tratado de forma simplista, baseado numa visão ecológica, que defende o decrescimento, a redução do consumo e a produção global. Claro que a questão do desenvolvimento sustentável, de um mundo menos intensivo em energia, é uma virtude legítima, mas precisamos dar um passo atrás para considerar a energia não apenas como uma utilidade, mas como um vetor real de transformação dos negócios.

E a ideia aqui não é refletir sobre a energia na transformação da nossa sociedade, mas seu impacto na plataforma dos fornecedores de energia (produtor, distribuidor, criadores de serviços).

Para essa análise, vamos pegar o exemplo da eletricidade. Historicamente, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a produção de energia, vista como uma função régia, foi um monopólio estatal, privatizado nos últimos 20 anos.

Mas a possibilidade de se tornar um produtor individual de energia elétrica (através de painéis solares ou turbinas eólicas no próprio quintal) quebrou essa produção centralizada. Assim, o monopólio da produção não é mais relevante, mas o controle da distribuição também caiu, abrindo caminho para as plataformas.

Primeira interrupção

Essa primeira ruptura é seguida por outro eixo de transformação: o desejo de se afastar de forma inteligente das energias não renováveis.

Mas as energias renováveis ​​e “limpas”, sejam solares ou eólicas, têm um grande ponto fraco: são incapazes de se adaptar à demanda. E a produção que não se adapta à demanda está fadada ao fracasso. A única solução, então, é o armazenamento.

Eletricidade

Quando se trata de eletricidade, as soluções propostas hoje são baseadas em baterias, custo, baixa capacidade e, acima de tudo, impacto ecológico.

Mas aí, você pode perguntar: “O que isso tem a ver com plataformas?”

Espere, estou chegando lá. E de carro!

De fato, o progresso dos últimos cinco anos nos permitiu vislumbrar a democratização dos veículos elétricos, muito mais virtuosos para reduzir a poluição de nossas grandes cidades.

O uso do veículo elétrico como meio de armazenamento é uma ideia e a sua chegada, um elemento-chave na gestão da rede elétrica.

Um carro não é utilizado em 95% de sua vida útil e o uso médio de um veículo elétrico exigirá menos de 80% da capacidade da bateria, para viagens diárias.

Assim, durante os períodos em que o veículo estiver ligado à rede elétrica, será possível utilizar a eletricidade armazenada para injetá-la na rede nos períodos de grande procura ou, inversamente, carregar a bateria do veículo fora das horas de maior consumo.

Conceito V2G

O conceito “vehicle-to-grid” ou V2G, como é conhecido, consiste em utilizar baterias de veículos elétricos como capacidade de armazenamento móvel.

Estamos começando a ver uma forma de rede multiconectada, uma plataforma no sentido técnico e comercial.

Porque essas operações de compra — de cobrança/venda ou injeção na rede — formam um verdadeiro mercado, que pode se tornar um negócio próprio para quem detiver esse ativo. Uma Amazônia energética será construída.

Plataforma aberta

Essa plataforma terá de ser aberta e padronizada o suficiente (pensamos imediatamente em APIs), para permitir que ferramentas de produção/consumo sejam trocadas automaticamente sem intervenção humana.

Além disso, a plataforma poderá permitir que cada condutor compre eletricidade para o seu veículo, onde quer que esteja, sem ter de passar por uma nova subscrição, como acontece hoje nas estradas europeias.

Segurança

A segurança é uma questão fundamental nesta arquitetura. Você pode imaginar as consequências de termos hackers nesta plataforma, onde o ransomware pode se infiltrar em veículos elétricos, permitindo que cibercriminosos exijam resgate, para permitir que os usuários recarreguem seus veículos?

Os players históricos do setor de energia, que estão vendo seus monopólios desmoronar, devem rapidamente dar uma guinada em direção à plataforma e construir esse serviço.

Eles têm todos os recursos necessários para fazer isso, ou seja, confiança, segurança e a base de usuários existente. Podemos ajudá-los a pensar e construir essa transformação, temos as ferramentas certas.